O Miguel Sabugo Tavares (também conhecido por monge copista), no seu modo desajeitado característico de quem já foi desenfreadamente a correr contra muito muro (é a única explicação que encontro para aquela fisionomia), faz hoje uma extraordinária incursão pelo mundo da ginástica desportiva e mostra um impressionante repertório de piruetas, mortais encarpados e flic flacs à retaguarda (demonstrando uma elasticidade a todos os títulos notável para alguém semelhante a um boxer com 150 anos) para tentar demonstrar que o clube condenado por corrupção não foi beneficiado pelo árbitro (e uso livremente o termo) no jogo contra o Braga, ao invés do jogo com o Benfica em que, de acordo com o monge copista, a verdade desportiva foi adulterada.
O brilhante escriba inicia a prova com um elegante movimento que partiria a espinha a uma pessoa sem a sua flexibilidade e relativiza o fora-de-jogo do Homem-Porco, Capitão América ou Hulk ou lá o que é, porque – saboreemos a excentricidade da alarvidade – ‘quem estava em off-side (é um moço culto, não gosta do popularucho ‘fora-de-jogo’ – ou então foi assim que copiou) foi o jogador que assistiu e não o jogador que marcou’. Bom, assim é completamente diferente. Ah, a genialidade deste moço, o seu libertador brilhantismo que quebra com as amarras do pensamento mainstream e nos conduz em direcção à iluminação intelectual. É inacreditavelmente genial, de forma sublime. É, muito provavelmente, o tipo mais brilhante que já viveu, desde o início da história da humanidade (e, provavelmente, até antes disso). É superlativamente inteligente, inacreditavelmente perspicaz, impossivelmente arguto.
De seguida, o Sabugo continua alegremente a espraiar a sua elegância pelas barras paralelas e, num vistoso movimento acrobático, vomita que se anulou um golo a um tal de Tomás Costa, o que ‘tornaria inútil a discussão sobre os penalties da segunda parte’. Recapitulemos: como decide que devia ter sido golo, isso invalida a discussão sobre o que aconteceu no resto da partida, porque implicaria uma alteração do fio da realidade e todos os acontecimentos daí em diante seriam afectados, criando um futuro diferente. Parece complicado? Nada que o cientista dos filmes do Back to the Future não vos consiga explicar.
Isto, na verdade, é profundamente revolucionário e cria uma nova escola chamada ‘Determinismo Obtuso’ segundo a qual, por exemplo, um lançamento de linha lateral decidido ao contrário pela equipa de arbitragem aos 30 segundos vicia de forma fatal um jogo porque – ah, o medo - altera o continuum da realidade e torna inútil a discussão de qualquer lance a partir daí. Bonito.
Não satisfeito com a magnífica exibição de agilidade, e já numa perspectiva de exibicionismo que roça a vaidade (como quem diz: ‘há muito mais piruetas de onde estas vieram’), ainda nos presenteia com duas piruetas invertidas de belo efeito. A saber: no penalty sobre o Meyong defende que é o Meyong que vai contra o Helton e não o contrário – as leis do espaço e do tempo não se aplicam de forma coerente no universo da Nadia Comaneci da imprensa desportiva portuguesa; na mão do Guarín dentro da área, curiosamente a emissão que lhe proporcionou as esclarecedoras repetições que lhe permitiram ter certezas nos lances do Meyong e do Tomás Costa aqui já não lhe conseguiu ‘mostrar o lance com clareza’.
Se por um lado é engraçado (e bizarro - não esqueçamos bizarro) ver uma figura semelhante a um carapau seco de 2 metros a emular jovens adolescentes de Leste em saraus de ginástica, por outro lado é triste e incomodativo, porque depois das piruetas aterra sistematicamente de cara. E aquela cara já sofreu que chegue.
* O monge copista é uma espécie de coador viciado que filtra apenas a estupidez, concentrando-se ferozmente nela, e retém esquecidos na rede a verdade e o sentido de vergonha (e arbitragens como as do Rio Ave-Benfica, Guimarães-Benfica, Benfica-Setúbal, Leixões-Benfica, Benfica-Nacional e Belenenses-Benfica), que depois atira para o lixo.
Nada mais fácil!
Há 15 anos
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